Nova crise à vista? Além da alta dos alimentos, reajuste do diesel preocupa o governo
Pressionado pela alta nos preços dos alimentos, o governo poderá ter de lidar com uma nova crise que poderá impactar sua popularidade. Em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, avisou ao petista que a empresa deverá anunciar nos próximos dias aumento no preço do diesel para acompanhar a cotação do dólar. Segundo interlocutores da companhia, por enquanto, não seria necessário reajustar o valor da gasolina.
A justificativa da empresa, segundo participantes do encontro, é que o Brasil é mais dependente das importações no caso do diesel do que no da gasolina. O percentual de aumento ainda depende da conclusão de cálculos que estão sendo feito pela Petrobras. Procurada, a empresa não comentou.
Em outra frente, a partir de 1º de fevereiro o consumidor verá os preços mais altos nos postos, pois a alíquota do ICMS subirá em todo o país. No caso da gasolina, será uma alta de 7,1%, passando de R$ 1,3721 para R$ 1,4700 por litro. Já no diesel, o aumento será de 5,3%, de R$ 1,0635 para R$ 1,1200 por litro.
A alta não poderia vir em pior momento para o Palácio do Planalto. O preço elevado dos alimentos foi um dos fatores para a queda de cinco pontos na aprovação da gestão petista na pesquisa Genial/Quaest divulgada na segunda-feira, de 52% para 47%, ficando pela primeira vez atrás do percentual dos que reprovam a atual gestão, que somam 49%.
Impacto em 2026
Na visão de integrantes do governo, a alta nos combustíveis poderá acentuar essa rejeição, uma vez que tem impacto no preço dos transportes e, consequentemente, dos alimentos. Além disso, qualquer reajuste no diesel atinge diretamente os caminhoneiros, categoria que já demonstrou resistência ao presidente em outros momentos.
Interlocutores do Palácio do Planalto dizem que, apesar de Lula estar preocupado com a alta da inflação, a orientação dada à Petrobras é “fazer o que tiver que ser feito” e que a decisão sobre eventual reajuste dos combustíveis seja técnica. A preocupação do presidente, segundo auxiliares, é que represar a alta agora pode ter consequências futuras, em especial em 2026, ano eleitoral.
Na Petrobras, a leitura do encontro com o Planalto foi que Lula não deu indicação, apenas quer ser informado.
Além de Chambriard, participaram do encontro no Palácio do Planalto os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa.
Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço da gasolina está defasado em 7% e do diesel, em 17%. A entidade estima que seria preciso reajustar o litro da gasolina em R$ 0,22 e o do diesel em R$ 0,59.
A disparidade em relação ao mercado externo tem levado parte dos analistas a afirmar que a Petrobras estaria segurando preços para evitar pressionar ainda mais a inflação neste ano, projetada em 5,5% contra meta de 3%.
O último reajuste no preço do diesel pela Petrobras ocorreu em dezembro de 2023 e o da gasolina, em julho de 2024. Para analistas, apesar do recuo na cotação do dólar nos últimos dias, a Petrobras terá que ajustar os preços em algum momento.
Apesar da reunião com o presidente, no comando da Petrobras a decisão sobre o reajuste é considerada “em aberto”, segundo fontes ligadas à alta administração.
‘Decisão em aberto’
A decisão sobre reajuste na Petrobras é tomada por três pessoas: Magda Chambriard, Fernando Melgarejo, diretor de Relações com Investidores; e Claudio Romeo Schlosser, diretor de Logística, Comercialização e Mercados.
Segundo uma fonte, Melgarejo e Schlosser estavam de férias. Schlosser voltou ontem ao trabalho. Ontem, houve reunião da diretoria da companhia. Segundo essa fonte, a cada 15 dias o grupo se reúne para analisar os preços.
“Ainda está em aberto. Pode ser amanhã, semana que vem ou depois”, destacou uma das fontes ouvidas pelo GLOBO. Hoje, o Conselho de Administração da Petrobras vai se reunir. Apesar de o tema não estar na pauta, o assunto deve ser abordado no encontro com a apresentação do panorama pela diretoria.
Segundo fontes, embora o dólar tenha subido com força, a divisa está em queda, abaixo de R$ 5,90. Além disso, o preço do petróleo, que chegou a US$ 82 no dia 15 de janeiro, perdeu força e está em torno de US$ 77. Também são levadas em conta as dúvidas sobre os impactos de Donald Trump nas cotações internacionais.
A incerteza em relação ao que vem por aí no governo de Donald Trump é apontada como outro fator que dificulta a definição de reajuste na estatal, segundo fontes.
O aumento do ICMS na gasolina por si só já trará impacto na inflação, explica André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, e deve aparecer no resultado de fevereiro. Cada 1% de aumento na gasolina faz com que o IPCA suba 0,05 ponto percentual. Já o diesel tem impacto indireto sobre uma gama de produtos, inclusive alimentos, porque encarece o frete:
— Qualquer bem que a gente consome no dia a dia tem o custo do diesel embutido, porque de alguma maneira aquilo chegou na sua cidade pelo transporte rodoviário. E aí o efeito do diesel acaba sendo até mais perverso que o da gasolina, no sentido de espalhar mais as pressões inflacionárias. É usado no transporte público ou no de mercadorias.
Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, o impacto direto e indireto da alta do ICMS dos combustíveis no IPCA de fevereiro será de 0,08%. Ele estima que a inflação do mês será de 1,33%:
— Não é mudança tão grande, mas o repasse no IPCA vai ser completo.