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Um dia após o lançamento, Pix por aproximação divide opiniões

Lançado na véspera do Carnaval, pelo Banco Central, o pagamento em Pix por meio de aproximação é mais uma opção para as pessoas que desejam fazer pagamentos no comércio físico sem ter a necessidade de digitar uma chave ou escanear um QR Code. Apesar disso, por ser uma iniciativa nova, muitas pessoas ainda desconhecem as funcionalidades dessa nova modalidade.

Em Brasília, diversos comerciantes ainda não receberam o Pix por meio da tecnologia NFC, alguns inclusive ainda nem sabiam da mudança. “Fiquei sabendo hoje disso”, afirmou ao Correio uma vendedora de artesanato na Feira da Torre de Brasília. Em algumas máquinas de pagamento, já é possível optar pela aproximação, em vez do QR Code.

A recepcionista Erica Reis, 31 anos, aceitou o convite da reportagem para testar o pagamento em Pix por aproximação. Após ter realizado a compra de um sorvete por meio da modalidade, ela reconheceu que a mudança facilitou bastante a transação e aumentou a praticidade. “Agora eu prefiro fazer por aproximação, mesmo”, destacou. Erica, que já costuma utilizar o Pix convencional em supermercados e outras lojas físicas, disse que pretende continuar utilizando a nova opção. “Colocar a chave ou escanear o QR Code acaba demorando um pouco mais, preferi assim”, acrescentou.

O motorista de aplicativo José Afonso de Araújo, 28 anos, aproveitou para abastecer o carro em um posto de gasolina próximo à Torre de TV e pagar com a nova modalidade. Apesar de ter aprovado a novidade, considera que não houve uma mudança tão grande e que já havia praticidade suficiente no pagamento instantâneo, mesmo antes deste lançamento. “É a mesma coisa com o débito por aproximação. Acho que só acrescentou algo que já existia”, comentou.

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Com o objetivo de reduzir ainda mais o tempo para realizar o pagamento instantâneo, o Pix por aproximação ainda está em fase de testes. Em um primeiro momento, as transações por aproximação terão um valor máximo padronizado de R$ 500. Também inicialmente, o recurso está disponível apenas para dispositivos Android, por meio do Google Pay. Usuários de iPhones ainda não têm acesso à funcionalidade nesta fase.

Com a chegada do Carnaval, marcado por festas, aglomerações e intensa movimentação financeira, a ação de criminosos que aplicam golpes em pagamentos durante compras fica ainda mais perigosa. Entre as fraudes mais comuns, estão a troca de cartões e a alteração de dados em transações via Pix, um risco que pode se intensificar com a chegada do Pix por aproximação.

Na avaliação de Thiago Amaral, sócio do Barcellos Tucunduva Advogados e professor da FGV-SP e do Insper, a distração e o uso cada vez maior de meios de pagamento digitais aumentam o risco de fraudes nesse período. “Os golpistas se aproveitam do alto volume de transações para aplicar fraudes que muitas vezes passam despercebidas. Um dos golpes mais comuns é a troca de cartões, em que o consumidor entrega seu cartão ao vendedor, que observa a senha digitada e devolve outro cartão idêntico, mas pertencente a outra vítima”, explica Amaral.

O especialista recomenda priorizar pagamentos por aproximação com cartão ou carteiras digitais, que exigem autenticação em duas etapas, como senha, biometria ou reconhecimento facial. “Além disso, é fundamental conferir atentamente os valores exibidos na maquininha antes de concluir qualquer transação”, alerta.

O advogado especialista em direito digital e presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP), Francisco Gomes Júnior, levanta dúvidas sobre a real necessidade do novo formato. “O Pix já é muito fácil de ser feito, mas será que precisa ser ainda mais simples? Talvez seja mais seguro manter a exigência de digitar uma chave ou CNPJ, evitando riscos desnecessários.”

O advogado aponta, ainda, que, embora a novidade tenha o potencial de simplificar pagamentos, os mesmos golpes aplicados em cartões por aproximação podem ocorrer com o Pix, como cobranças indevidas e fraudes com valores falsos. “Sempre que possível, (é bom) utilizar reconhecimento facial ou digital para validar transações antes da conclusão do pagamento”, considera.

Apesar dos cuidados necessários que se deve ter em qualquer modalidade de pagamento, o Pix por aproximação também oferece vantagens. Na avaliação do diretor de operações da Nava Technology of Business, Ricardo Calegaro, a novidade é um grande avanço e deve melhorar bastante a experiência do cliente.

“Para a sua implementação de forma eficaz, as instituições financeiras deverão ficar atentas ao monitoramento e à inteligência antifraude, à autenticação e ao controle de acesso, além de definir limites e regras de transação. Será necessária também uma campanha de educação dos usuários, que tendem a desconfiar inicialmente desse tipo de novidade”, afirma Calegaro.

Diante disso, o especialista considera que a nova funcionalidade opera com base em protocolos de segurança já consagrados do Pix, além de interagir com o Open Finance, permitindo que o consentimento do usuário seja capturado fora do ambiente seguro dos aplicativos bancários. “Essa ‘jornada sem redirecionamento’ promete maior flexibilidade e acessibilidade, mas exige que as instituições financeiras desenvolvam novos controles de prevenção a fraudes, além de limitar o valor para transações sem contato”, acrescenta.

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